Meryl Baby

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segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Entrevistando Meryl Streep (26)



          Em "Julie & Julia", duas histórias femininas - a da blogueira Julie Powell e a da cozinheira e apresentadora Julia Child - são intercaladas, apesar das décadas que as separam. Amy Adams e Meryl Streep, que interpretam, respectivamente, Julie e Julia, conversaram com a imprensa em Los Angeles, ao lado da sua diretora no filme, Nora Ephron, cineasta conhecidíssima por suas comédias românticas. Na entrevista elas falam sobre comida (claro), suas carreiras, os desafios do filme e mulheres em Hollywood. Confira! 


          Nora Ephron: Eu prometo que não vou dizer hoje nada do que eu já disse antes. Tudo que estou prestes a dizer, eu nunca disse antes.

          Ótimo! O filme é muito bom.

          NE: Obrigada, nós nos divertimos muito.

          Meryl, como você se tornou a Julia Child, a sua Julia Child? Foi algo natural ou simples para você?

          Meryl Streep: Bom, sabe ela já era muito familiar para mim, desde a época em que eu estava na oitava série. Eu meio que a conhecia, ou pensava que conhecia. E aí quanto mais eu lia sobre ela, sobre como sua vida era rica e maravilhosa... mais eu me lembrava, de diversas maneiras, da minha mãe. Minha mãe tinha um espírito parecido, o amor por acordar todos os dias e fazer o que ela precisava fazer. E eu não sou sempre assim, então eu gostei da oportunidade de interpretar alguém assim, incrível e positiva.

          Ela era muito apaixonada. Você sentia essa paixão por alguma coisa em especial quando estava crescendo? Pela atuação? Porque ela era muito apaixonada pela vida, além da culinária. Você se identificou com ela de alguma maneira?

          MS: Bom, como eu disse... Eu acho que eu me identifiquei com ela porque eu sempre quis ser mais como a minha mãe, então eu gostaria de ser mais como a Julia Child. Mas eu não sou assim, não. Eu tenho dias ruins e outras coisas, complicações. Essa foi a nossa versão idealizada de Julia Child, eu tenho certeza que ela tinha esses dias também.
          NE: Eu não tenho tanta certeza. Sabe, aquela coisa que você tem que você fica de mau-humor? Eu acho que ela não tinha muito disso.
         MS: Bom, eu nunca a conheci, mas recebi uma carta muito mal-humorada dela uma vez. Eu escrevi a ela tentando conseguir ajuda no início do movimento Slow Food, em 1989. Eu estava trabalhando com um grupo tentando trazer vida, cultura e alimentos orgânicos aos supermercados locais e pensei "Nós deveríamos tentar envolver a Julia". E ela escreveu uma resposta muito brusca e grossa.

          Você lembra do que ela dizia?

         Amy Adams: Oi pessoal! Eu estou só 3 minutos atrasada, de acordo com aquele relógio. Desculpa.

          Nós estávamos só pensando se a Julia era um pouquinho mal-humorada às vezes.

          NE: Eu não acho que isso qualifica como mal-humorada, porque era uma coisa política, de certa maneira. Ela achou que você estava errada, mas isso é diferente de acordar de mal-humor, sabe.
          MS: Isso é verdade, absolutamente verdade.

          O que você acha que a Julia Child significa, em termos de cultura estadunidense, em relação à comida e cultura. Porque obviamente em outros países, como o Brasil, essa pode ser a primeira vez que algumas pessoas ouviram falar dela.

          NE: Bom... Quando as pessoas dizem que ela mudou a vida como nós a conhecemos, a vida como conhecemos provavelmente teria mudado mesmo assim. Mas ela veio em um momento em que as pessoas estavam prontas para parar de simplesmente abrir latas. Sabe, na minha casa uma coisa que nós amávamos era batatas à escalope, e aliás nós tínhamos uma ótima cozinheira, mas a maneira como nós fazíamos as batatas à escalope era fatiando as batatas e aí abrindo uma lata de sopa Campbell's de cogumelos e derramando-as em cima das batas. E a propósito, era delicioso! Elas ficavam completamente deliciosas, mas o negócio é o seguinte: é igualmente fácil colocar um creme e fatiar uns cogumelos. E as pessoas estavam prontas para descobrir isso. E ela foi a pessoa que surgiu nesse momento, em que as mulheres, e os homens, começaram a compreender que eles poderiam ser ótimos cozinheiros e isso não levaria muito mais tempo que ser um péssimo cozinheiro. E todos cozinhavam naquela época, bem ou mal. Não é como agora, que as pessoas pedem tanta comida pra entregar.

          E do que vocês gostam como cozinheiras. Quero dizer, vocês mesmas. Vocês cozinhavam antes, começaram a gostar depois do filme, não eram muito boas ou...

          AA: Eu não diria que eu sou realmente boa. Mas eu posso te alimentar, sabe... [risos] Eu poderia alimentar um exército, cresci com sete irmãos e aprendi a cozinhar em quantidade. Então tem sido uma grande revelação fazer uma omelete com dois ovos. Sabe, numa panela com manteiga, uma omelete por vez.
          Eu estava lendo aqui nas notas que você era um pouco traumatizada, assim como a sua personagem, para cozinhar a lagosta.

           AA: Sim, eu estava.

          Você ainda sente isso?

          AA: Eu não como lagosta desde então. Eu não tenho problemas com siris, por algum motivo, mas lagostas...

          NE: É porque você nunca se deparou com um siri!
          AA: Tem razão, não me encontrei com nenhum siri mas...eu tinha um problema com isso.

         Quais são as suas receitas preferidas, e receitas preferidas da Julia Child, que você poderia contar pra gente?

          MS: Eu... Bom, eu acho que o frango rosé dela é meio que impossível de dar errado. Sabe, você acha que é só um frango rosé e coloca ele no forno, mas há pequenos detalhes nessa receita que a tornam ótima, que fazem dela uma ótima refeição. Eu lembro da primeira vez que eu a fiz e todos olharam com uma cara de "Frango?", sabe. Mas depois disseram que estava maravilhoso, então é só uma questão de quando dourar; quando a manteiga fica certa; a combinação certa de manteiga e azeite de oliva e quando você acrescenta isso, aquele momento da fervura e você realmente tem que esperar isso; você tem que lavar a ave mas depois secá-la muito, muito bem - o que eu nunca fiz. Só esses pequenos elementos, e como rechear o frango e com o que, e como virá-lo com colheres de madeira, coisinhas para que a pele do frango não quebre, ela faz coisinhas assim que fazem a comida ficar ótima.
          Meryl, você é uma grande estrela comercial, e nos seus últimos dois filmes poderíamos dizer que novas gerações estão te descobrindo, as pessoas continuam indo aos cinemas. Como é isso pra você, ver pessoas de 20 anos...         

          MS: É surpreendente e maravilhoso! Mas eu não sei, eu devo dizer que não me avalio por nada disso. Realmente. Eu fico chocada que agora meninas de 13 anos vêm e querem muito me conhecer! [risos] Elas vêm com muita empolgação e isso é novo, realmente novidade. É ótimo.

          Mas isso é uma coisa muito difícil de conquistar, para uma mulher nesta época e recomeçar, renovar.

          MS: Eu não acho que eu renovei nada. Eu acho que alguém investiu dinheiro nesses filmes sobre mulheres e sabe-se lá por que eles decidiram fazer isso. Mas provavelmente com Diabo Veste Prada rendendo tanto dinheiro e deixando todos tão surpresos houve uma comoção com isso. E depois Mamma Mia! foi lá e fez a mesma coisa e eles novamente ficaram chocados, chocados. Que esse filme ia atrair não só os fanáticos e sim que ia se sair bem e se tem dinheiro nisso então... E nós somos as beneficiárias disso, com nosso filme sobre culinária.


Fonte: Omelete Entrevista: Meryl Streep, Nora Ephron e Amy Adams
Uma conversa com as protagonistas e a diretora de Julie & Julia
Érico Borgo
27 de Novembro de 2009

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